Whatsapp torna-se instrumento para pesquisa na Escola Lélis Piedade

07 de dez de 2017 - Jornalismo

Pensando em fazer um trabalho diferente com os alunos da Escola Municipal Lélis Piedade, que fica em Cosme de Farias, para falar da cultura negra e sobre o 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, a professora Jaciara Nogueira teve uma ideia: “Que tal fazermos uma pesquisa sobre a Africa?”. A proposta foi de pronto aceita por todos. Durante as pesquisas descobriram que uma das alunas da escola tinha ascendência angolana – o avô da estudante nasceu no pais africano e decidiram focar a pesquisa em Angola.

A professora conta que as 19 crianças estavam empolgadas com tudo que iam descobrindo nas pesquisas sobre o país africano – um dos que mais se parece com o Brasil. “Eram muitas as perguntas e a curiosidade. Fiquei pensando em uma forma de encontrarmos todas as essas respostas. Foi quando propus a eles: vamos usar o whatsapp para conversar com alguém de lá para tirar as nossas dúvidas e responder as nossas perguntas? Todos ficaram eufóricos e felizes com a nova ideia”, relata Jaciara. Logo a professora procurou um amigo que passou o contato de uma angolana, a assistente social Selma Ottiliana Marcos da Silva, e todos começaram a se comunicar através do aplicativo.

A professora Jaciara falou da proposta da pesquisa e da receptividade que tiveram da nova amiga virtual. Também como a tecnologia tem aguçado a imaginação e a curiosidade das crianças. “Foi uma experiência incrível, viabilizada pelo uso da tecnologia. Nossos alunos aprenderam sobre a África com os africanos”. Estimulados pela novidade, os alunos não pararam de encher a caixa de mensagens da nova amiga de perguntas e curiosidades.

A aluna Celene Paixão Catulino de Santana disse que aprendeu muito com o avô, que é angolano, e também com a nova amiga. “Tenho aprendido muito com meu avô. E também amei saber de várias coisas com a angolana Selma, eu percebi que ela é uma mulher muito simpática, gentil e amorosa. Quando perguntamos alguma coisa pra ela sobre Angola ela teve paciência e respondeu tudo. Até aprendi que lá em Angola tem um lugar que você pode, se quiser, trocar o dinheiro de lá com o de outro país”, falou, referindo-se à casa de câmbio.

Outra aluna que se encantou com a experiência foi Anna Clara Santos Silva. “Eu gostei muito de falar com uma pessoa de outro país. É muito legal. Mesmo que a gente não veja a pessoa, mas só pela voz já deu para ver que ela é boa. O sotaque dela é diferente, mas o português dela é igual o da gente. Algumas comidas de lá são tipo as daqui do Brasil, mas o nome é um pouco diferente. As músicas também são muito boas. O samba é um pouco diferente”, relatou.

Curioso que só, o aluno Cauã Luiz Marinho do Carmo, de 11 anos, foi um dos mais entusiasmados. Em suas conversas com Selma, Cauã observou que mesmo se sentindo parte de Angola, existe uma grande diferença entre os dois continentes. “Sou muito curioso, pergunto tudo. Gostei também que lá, tem gente de pele negra igual a minha, mas que não é só gari. Lá tem muito negro médico, engenheiro, advogado. Aqui é difícil, né? Só vejo branco”.

Esse trabalho de pesquisa no celular animou até os familiares dos alunos em casa. De acordo com Cauã até a mãe dele se empolgou com o aplicativo e passou a querer saber tudo que ele está aprendendo com a nova amiga. “Minha mãe ficava dizendo: finalmente Cauã você está usando o “zap zap” para aprender coisas. E ela também acabou querendo saber coisas de Angola. Pode isso? Gostei de verdade. Só estou esperando Selma passar o whatsapp da sobrinha dela. Vou ficar feliz em conversar também com angolanos de minha idade”.

Além da troca de informações, os alunos receberam de Selma fotos do lugar, das pessoas, das casas, ruas e culinária. O novo uso da ferramenta de contato mexeu com a imaginação dos estudantes. Empolgado, o aluno Davi ficou com água na boca ao ver os pratos típicos da região. De tão sonhador, Davi chegou até a se imaginar no país. “Estou gostando muito de poder falar com uma pessoa de Angola, de aprender coisas novas (…) aprendi também sobre as comidas de lá. Só de olhar me deu água na boca. É uma grande conquista a gente falar com uma pessoa de outro país. Ah! Ganhei o celular tem pouco tempo e assim que a pró disse que a gente ia falar no zap com uma angolana fiquei imaginando como seria lá. Também fiquei imaginando como um lugar tão longe pode ficar tão perto. Selma é muito legal, contou tudo e a gente fica com vontade ir para lá. Às vezes fecho os olhos e fico me imaginado em Angola.”

Davi de Souza Santos lembra com tristeza das fotos que viu dos alunos de lá em sala de aula. “Fiquei triste com as escolas, tem umas lá que os alunos ficam sentados no chão e o quadro da pró deles é a parede. Aí agradeço a Deus pela minha escola e peço a ele que melhore as deles.”

Pelo wathsapp a angolana Selma, falou sobre a experiência, do receio inicial e do prazer em aguçar a curiosidade e responder os questionamentos. “Quando me foi feito o convite para esta interlocução com estudantes do Brasil e da Bahia, confesso que fiquei ansiosa no sentido de não corresponder às expectativas, afinal quando se trata da camada jovem que não se intimida em perguntar me deixou um tanto nervosa. Por outro lado, o que me estimulou foi a possibilidade de interagir com esses jovens para dar a eles uma visão dos aspectos do meu país o mais próximo possível da realidade. Mostrando as nossas melhores referências quer seja de cultura, culinária, danças, nossas tradições e o dia a dia do cidadão comum. Da mesma forma, mostrar os nossos problemas que não são poucos”, lembrou a angolana.

A assistente social falou ainda da experiência em poder trocar informações com jovens e desmistificar algumas informações distorcidas sobre o país. “Foi uma experiência rica, pelo menos para mim e espero que para os jovens também. Porque existe muita informação distorcida sobre meu país. Foi uma bela oportunidade para levar conhecimento sobre os aspectos da vida do angolano, que apesar das dificuldades é alegre e aberto a todos que saibam respeitar nossa cultura e nosso jeito de ver o mundo”, concluiu.